Brasil: Tarifas americanas elevam expectativas para eleições de 2026 e impactam economia
O Brasil enfrenta um novo capítulo nas relações comerciais com os Estados Unidos após a imposição, em julho de 2025, de tarifas elevadas por parte do governo americano sobre produtos brasileiros. A medida, que inclui sobretaxas de até 50% em setores-chave como aço, alumínio, carne bovina e soja, tem provocado repercussões políticas e econômicas significativas no país.
A valorização do dólar reflete clima político nacional
Especialistas apontam que o aumento recente do dólar frente ao real não se deve apenas a fatores econômicos tradicionais. Segundo Fabio Kanczuk, diretor de macroeconomia da ASA e ex-diretor do Banco central, o câmbio tem funcionado como um indicador indireto das expectativas eleitorais no brasil. O salto da moeda americana de R$ 5,45 para R$ 5,55 foi interpretado pelo mercado como um acréscimo aproximado de 10 pontos percentuais na probabilidade da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 – passando de uma chance estimada em 45% para cerca de 55%.
“O movimento cambial está mais ligado à percepção política favorável ao atual governo do que a fundamentos econômicos”, destaca Kanczuk. Essa leitura reforça a ideia de que o ambiente externo influencia diretamente as dinâmicas internas brasileiras.
Efeitos limitados no PIB com impacto inflacionário sutil
A despeito das tensões comerciais geradas pelas tarifas americanas, o impacto direto sobre o produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é considerado moderado.Estimativas indicam uma redução entre 0,3% e 0,4%, dado que as exportações brasileiras aos EUA representam menos de 2% do total nacional.
No entanto, essa retração externa pode gerar efeitos secundários na inflação doméstica.A diminuição da demanda internacional afeta principalmente empresas exportadoras – como as produtoras brasileiras de suco concentrado – reduzindo sua rentabilidade e pressionando negativamente o mercado laboral associado. Ainda assim, esse efeito inflacionário adicional é projetado em torno de apenas +0,1 ponto percentual.
“No balanço final observamos uma ligeira queda no crescimento econômico acompanhada por um pequeno aumento na inflação,” resume kanczuk.
Tendência temporária ou ajuste passageiro?
Apesar da alta recente do dólar frente ao real estar alinhada às medidas tarifárias dos EUA contra diversos países emergentes – incluindo o Brasil -, analistas acreditam tratar-se mais de um ajuste pontual dentro do cenário global atual. Outros indicadores financeiros americanos importantes – tais como juros longos e índices acionários – não demonstraram sinais contundentes indicando deterioração econômica profunda nos Estados Unidos até o momento.
Dessa forma, especialistas sugerem cautela quanto à interpretação desse movimento cambial como início definitivo para uma nova fase prolongada; trata-se possivelmente apenas da volatilidade típica diante das incertezas geopolíticas recentes envolvendo comércio internacional.