Reino Unido em Xeque: Bank of England Repensa Libra Digital Entre Críticas, Privacidade e Futuro Financeiro

Reino Unido avalia Suspensão do Projeto da Libra Digital para o Público

No Reino Unido,o Banco da Inglaterra (BOE) está reconsiderando a continuidade do desenvolvimento de uma moeda digital estatal voltada aos consumidores,diante de crescentes questionamentos sobre os reais benefícios dessa iniciativa.

Foco em Soluções Privadas para Pagamentos Digitais

Internamente,o BOE tem estimulado instituições financeiras a avançar na criação de tecnologias inovadoras para pagamentos eletrônicos que possam competir com as funcionalidades previstas para a moeda digital do banco central (CBDC),porém sem que essa seja diretamente emitida ou acessível ao público final.

O governador Andrew Bailey afirmou no parlamento que “caso as parcerias com bancos comerciais prosperem, será difícil justificar a implementação da ‘Britcoin'”. essa decisão surge após mais de £24 milhões investidos em pesquisas desde 2021 e cerca de 50 mil contribuições recebidas em consultas públicas.

Aumento das Preocupações e Resistências à Libra digital

A proposta enfrenta forte oposição não só por parte dos legisladores, mas também por defensores da privacidade e grupos temerosos quanto à vigilância governamental sobre transações financeiras. Bailey defende que é preferível transformar depósitos bancários existentes em ativos digitais tokenizados ao invés de criar uma nova moeda digital estatal diretamente acessível aos consumidores.

Essa postura reflete inquietações relacionadas à expansão dos stablecoins privados, que podem desviar recursos do sistema bancário tradicional e prejudicar a concessão de crédito. Enquanto isso, países como Estados Unidos interromperam seus projetos digitais – como o GENIUS Act – e Coreia do Sul suspendeu seu programa piloto; apenas o Banco Central europeu mantém avanços significativos com seu euro digital.

Dificuldades Técnicas e Impactos Econômicos Pesam Contra CBDC Britânica

Especialistas renomados classificam o projeto como um “elefante branco”, sugerindo que ele atende mais aos interesses internos do banco central do que às necessidades reais dos usuários. O uso físico da moeda caiu drasticamente no Reino Unido: representava 51% das transações em 2013 e hoje corresponde apenas a 12%, afetando receitas tradicionais baseadas nos juros associados ao dinheiro físico.

A libra digital proposta não ofereceria remuneração financeira nem vantagens claras frente às soluções já consolidadas pelos bancos comerciais tradicionais – como contas digitais remuneradas protegidas pelo fundo Garantidor até £85 mil por depositante. Além disso, manifestações públicas destacaram receios relacionados à privacidade financeira e riscos sistêmicos caso grandes volumes sejam direcionados para moedas digitais estatais durante crises econômicas.

Regulação Focada na Supervisão Rigorosa dos Stablecoins Privados

Diante desse cenário complexo, Bailey alerta sobre os riscos decorrentes da emissão desenfreada de stablecoins privados sem regulamentação adequada. Ele defende depósitos tokenizados regulados dentro das normas bancárias vigentes para preservar soberania monetária e evitar fragmentação financeira global.

A aplicação das recomendações do comitê da Basileia limitará até 2026 a exposição dos bancos britânicos ao mercado cripto a apenas 1% dos investimentos totais. O diretor executivo David Bailey qualificou essas regras como “restritivas”, reforçando cautela diante da volatilidade típica desses ativos digitais emergentes.

A Autoridade Condutora Financeira (FCA) avança na estruturação regulatória específica para empresas cripto via regime “gateway”, previsto ainda este ano; além disso finaliza diretrizes específicas sobre stablecoins e custódia desses ativos inovadores.

Crescimento Acelerado dos Stablecoins Intensifica Debate Regulatório Mundial

No último biênio houve um crescimento expressivo no mercado global dessas moedas estáveis: saltando US$125 bilhões para US$255 bilhões – fato que intensifica preocupações regulatórias acerca da possível desintegração monetária causada pela proliferação descontrolada desses instrumentos financeiros alternativos.

Embora mantenha aberta sua capacidade técnica para lançar uma CBDC futuramente se necessário, o Banco da Inglaterra prioriza atualmente inovações privadas nos sistemas eletrônicos pagos acima das alternativas estatais diretas destinadas ao consumidor final – sinalizando uma mudança significativa frente às posições adotadas há poucos anos atrás quando se considerava quase inevitável essa transformação monetária pública no Reino Unido.