Brasil: Sobretaxa Americana Ameaça Exportações do Agronegócio
O agronegócio brasileiro enfrenta um cenário de incertezas após o anúncio inesperado de uma sobretaxa de 50% sobre produtos nacionais, medida imposta pelo governo dos Estados Unidos e prevista para vigorar a partir de 1º de agosto. Essa decisão tem provocado uma desaceleração na produção, especialmente nos frigoríficos que destinam carne bovina ao mercado americano.
Repercussões na Cadeia da Carne Bovina
Roberto Perosa, presidente da associação Brasileira da Indústria de Carne Bovina (Abiec), revelou que as indústrias brasileiras optaram por suspender temporariamente a produção voltada para os Estados Unidos enquanto buscam estratégias para redirecionar os embarques. A medida surpreendeu importadores americanos, que dependem da carne brasileira para suprir a demanda, especialmente diante da redução da pecuária local causada por secas em regiões produtoras.
Historicamente, a carne brasileira era comercializada a preços inferiores aos praticados no mercado americano, contribuindo para a redução do custo final ao consumidor nos EUA. Perosa alerta que a sobretaxa tem motivações políticas e pode gerar prejuízos significativos para empregos no Brasil, além de aumentar a imprevisibilidade no setor.
Diplomacia e Estratégias de Diversificação
O governo brasileiro tem adotado uma postura diplomática, evitando retaliações imediatas e buscando negociar prazos e percentuais menores para a sobretaxa. Luís Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), destacou que os Estados Unidos representam 7% das exportações brasileiras e que o país está aberto ao diálogo para evitar imposições unilaterais.
Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Mapa intensificou esforços para diversificar mercados, abrindo 393 novas oportunidades para exportadores brasileiros. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) alerta para impactos negativos em toda a cadeia produtiva,incluindo setores como papel e celulose,açúcar,café e suco de laranja,e reforça a importância de uma solução negociada entre os países.
Desafios para o Mercado de Café
O Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, vê o mercado global da bebida ameaçado pela sobretaxa. Os Estados Unidos, que possuem 76% da população consumindo café, são o principal destino das exportações brasileiras, com 8,1 milhões de sacas importadas em 2023, segundo dados do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé).
Marcos Matos, diretor do Cecafé, ressalta a interdependência entre os dois países e a relevância econômica do café para a indústria americana, onde cada dólar investido em café verde gera 43 dólares na economia local. diferentemente da carne, o café não é cultivado nos EUA, o que motiva esforços discretos de entidades americanas para reverter a sobretaxa.
Impactos no Setor de Suco de Laranja
A CitrusBR, representante dos exportadores de suco de laranja, alerta que a nova tarifa pode inviabilizar cerca de 72% do valor do produto exportado para os Estados Unidos, que absorvem 41,7% das vendas externas brasileiras na safra 2024/25. A associação prevê consequências graves, como paralisação das colheitas, desorganização industrial e interrupção do comércio, já que a União Europeia, maior mercado do suco brasileiro, não tem capacidade para absorver o excedente.
Em nota, a CitrusBR reforça a necessidade de mobilização diplomática do Brasil para proteger empregos e renda no setor, apelando para a atuação conjunta do Estado em defesa dos interesses nacionais.
Paralisação e Redirecionamento das Exportações
nos portos brasileiros, cargas de pescados e outros produtos aguardam definição após o cancelamento de pedidos por empresas americanas, que respondem por 80% da produção nacional. A incerteza sobre o destino de mercadorias em trânsito após 1º de agosto preocupa o setor.
As exportações de carne bovina para os EUA, que tinham previsão de dobrar até 2025, já mostram sinais de inviabilidade. Entre janeiro e junho de 2024, foram enviadas 190 mil toneladas, quase alcançando o total anual de 220 mil toneladas do ano anterior. O corte preferido pelos americanos, proveniente da dianteira do boi, é utilizado principalmente para produção de hambúrgueres, que representam 68% do consumo de carne bovina no país.
Perosa destaca que o setor busca alternativas para reorganizar a produção e direcionar os embarques para mercados asiáticos e do Oriente Médio. O governo brasileiro afirma que apoiará essas iniciativas, mantendo diálogo constante com entidades do agronegócio para mitigar os impactos da sobretaxa.