Selic em 15%: O que esperar do início dos cortes de juros e o impacto na economia brasileira?

brasil mantém taxa Selic em 15% e projeta início de redução para o próximo ano

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano após sua última reunião realizada na quarta-feira (30). Apesar dos avanços observados na política monetária restritiva que têm colaborado para a desaceleração da inflação, o Banco central adota uma postura prudente, aguardando os próximos meses para analisar os impactos no mercado de trabalho e nas relações comerciais internacionais.

Expectativas para cortes na taxa Selic

Analistas da XP Investimentos indicam que o ciclo de redução da selic deve iniciar somente em janeiro de 2026,com uma queda gradual até alcançar aproximadamente 12,5% ao final daquele ano.Entretanto, cresce no mercado financeiro a antecipação desse corte já para dezembro deste ano.

Jeferson Bittencourt, economista-chefe do ASA Investimentos e ex-secretário do Tesouro Nacional, reforça essa possibilidade.Segundo ele, fatores como a diminuição das taxas nos Estados Unidos e as pressões governamentais por maior dinamismo econômico diante das eleições presidenciais podem acelerar o início dos cortes ainda em dezembro.

Análise do comunicado do Copom pelo mercado financeiro

Natalie victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, ressalta que embora o Copom mantenha sua estratégia atual focada na permanência dos juros elevados por mais tempo, dados recentes podem levar investidores a interpretarem um tom mais brando (“dovish”). Caso haja reconhecimento explícito sobre desaceleração econômica ou menor risco inflacionário devido à guerra comercial internacional – especialmente as tarifas impostas pelos EUA – essa percepção tende a se intensificar.

Sinais moderados de queda na inflação brasileira

A inflação no Brasil tem apresentado recuo desde junho. Embora ainda esteja acima do centro da meta estabelecida pelo Banco Central (3%), indicadores como os núcleos inflacionários registraram quedas consecutivas em julho. A recente valorização cambial aliada à baixa nos preços internacionais do petróleo e deflação nos alimentos internos contribuem positivamente para esse cenário.

Dessa forma, as projeções oficiais apontam uma leve redução nas expectativas inflacionárias: passando de 4,9% para 4,8% até o fim de 2025 e apresentando ligeira queda também até dezembro de 2026. O impacto das tarifas americanas sobre produtos brasileiros pode acelerar essa tendência ao aumentar a oferta interna e pressionar os preços para baixo.

Pressão inflacionária mantida pelo mercado laboral aquecido

No entanto, um fator que continua exercendo pressão sobre os preços é o mercado trabalhista aquecido.A combinação entre queda no desemprego e aumento real dos salários impulsiona um consumo elevado devido à maior renda disponível entre os brasileiros – elemento considerado “hawkish” pela análise econômica tradicional.

Cenário industrial apresenta contrastes relevantes

A indústria nacional opera próxima aos seus limites históricos quanto à capacidade instalada indicando forte produção interna. Por outro lado setores ligados ao varejo apresentam crescimento mais modesto nas vendas enquanto segmentos dependentes do crédito – como automóveis e eletroeletrônicos – evidenciam desaceleração clara neste segundo semestre.

A iminente imposição pelo governo americano liderado por Donald Trump sobre exportações brasileiras com alíquotas tarifárias elevadas (em torno dos 50%) gera incertezas significativas na economia doméstica. Caso não haja acordo bilateral antes desta sexta-feira (1º), essas medidas entrarão em vigor impactando diretamente setores-chave das exportações nacionais.

O governo brasileiro tenta negociar isenções específicas envolvendo alimentos básicos e aviação civil; contudo tais pedidos ainda não foram aceitos pelas autoridades norte-americanas.

O efeito inicial esperado dessas tarifas é deflacionário internamente: mercadorias não exportadas tendem a permanecer no país aumentando oferta local com consequente pressão negativa sobre preços.

bruno Cotrim , economista sênior da Top Gain , alerta que esta situação preocupa fortemente indústrias brasileiras . “Com barreiras tarifárias tão altas , fica inviável produzir aqui visando mercados externos . isso gera excesso interno sem demanda suficiente , comprometendo sustentabilidade produtiva nacional ” , explica .

Análises adicionais apontam risco potencial também sobre câmbio : agravamento dessa crise comercial poderia desvalorizar real frente ao dólar encarecendo insumos importados essenciais às cadeias produtivas locais . ⁣

Cautela diante das incertezas econômicas globais

Diante desse contexto complexo marcado pela guerra tarifária internacional somada às pressões internas inflacionárias moderadas porém persistentes ,especialistas recomendam prudência nas decisões futuras relacionadas à política monetária brasileira .⁣ O Departamento Econômico do Banco Daycoval reforça expectativa por manutenção conservadora enquanto cenário permanece incerto .

Mecanismos fiscais estimulam atividade mas complicam decisão monetária⁣

No segundo semestre estão previstos diversos estímulos fiscais capazes potencialmente impulsionar consumo : pagamento regularizado dos precatórios judiciais ; ressarcimento aos aposentados afetados pela fraude previdenciária ; linhas especiais voltadas reformas residenciais são exemplos citados pelo economista jeferson Bittencourt .
  ‍   apesar disso ele acredita que esses incentivos dificilmente impedirão eventual corte futuro na Selic pois outros fatores prevalecem nas decisões estratégicas.
    Carlos Honorato , professor especialista em planejamento estratégico econômico afirma : “em momentos duvidosos como este BC tende manter juros altos até ter certeza sólida quanto aos movimentos efetivos contra inflação “‍ .
  ‍ Pequenas quedas pontuais nos custos alimentícios ou materiais podem sinalizar oportunidade futura porém riscos associados superam ganhos momentâneos .
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