Brasil: Exportações para os EUA podem sofrer queda de até 75% após imposição de tarifas
O governo dos Estados Unidos anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para seu mercado, medida que pode provocar uma redução significativa nas vendas brasileiras para a maior economia mundial. A decisão foi comunicada no final da tarde de quarta-feira, 9 de fevereiro, e tem como possível gatilho a recente declaração dos líderes do Brics, divulgada no último fim de semana.
Contexto e impacto econômico
Lucas Ferraz, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e atual coordenador do Centro de Negócios Globais da FGV, avalia que o aumento tarifário pode resultar em uma diminuição de até 75% nas exportações brasileiras para os EUA. Embora o Brasil tenha uma economia relativamente fechada, com exportações representando uma parcela modesta do PIB, o impacto será especialmente sentido no setor industrial, já que os Estados Unidos são o principal destino dos produtos manufaturados brasileiros.
Motivações políticas e comerciais por trás da medida
Na carta enviada ao presidente Lula, o ex-presidente Donald Trump mistura críticas políticas, como a contestação do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, com questões comerciais.apesar disso, Ferraz acredita que o motivo real para a imposição da tarifa mais alta da semana ao Brasil não está explicitamente declarado, mas está relacionado à declaração conjunta dos Brics, que abordou temas sensíveis como o financiamento em moedas locais pelo Novo Banco de Desenvolvimento e condenações a ataques militares no Oriente Médio.
Repercussão da declaração dos brics e a resposta americana
Durante a cúpula do Brics, o bloco enfatizou a expansão do financiamento em moedas locais, buscando reduzir a dependência do dólar, além de criticar ações militares contra o Irã. Trump já havia anunciado que países alinhados a políticas consideradas “antiamericanas” pelo bloco sofreriam tarifas adicionais de 10%,sem exceções.A tarifa de 50% aplicada ao Brasil soma-se à média anterior de 2,5%, elevando o custo total para 52,5%.
Possibilidades de negociação e desafios futuros
Ferraz destaca que, apesar do tom político da carta, a negociação comercial ainda pode ocorrer, especialmente se o Brasil reduzir as barreiras tarifárias para produtos americanos, como o etanol, que tem papel central nas discussões. No entanto, o alinhamento ideológico entre os governos dificulta o avanço das negociações, agravado pelo aumento da tensão diplomática entre os países.
Perspectivas para a relação comercial brasil-EUA
Segundo o ex-secretário, a relação entre Brasil e Estados Unidos sempre foi marcada por negociações rigorosas, mas o atual cenário foge do padrão habitual, com a política interferindo diretamente nas decisões comerciais. A possibilidade de redução das tarifas impostas por Trump depende de autorização do Congresso americano e de um canal diplomático aberto e pragmático, o que ainda é incerto.
Conclusão
Embora a tarifa de 50% represente um aumento expressivo, a experiência mostra que Trump costuma usar essas medidas como estratégia para barganhas comerciais, podendo reduzir as tarifas posteriormente, mas dificilmente abaixo de 10%. O Brasil enfrenta o desafio de equilibrar interesses políticos e econômicos para minimizar os efeitos negativos dessa nova fase nas relações comerciais com os Estados Unidos.