Brasil: Tarifas dos EUA Ameaçam Exportações da Suzano e o Setor de celulose
O governo dos Estados Unidos anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, medida oficializada por meio de uma carta assinada pelo então presidente Donald Trump em 9 de julho. Essa decisão gerou preocupações significativas para as empresas brasileiras do segmento de papel e celulose,com destaque para a Suzano (SUZB3),que figura como a principal afetada.
Exposição da Suzano ao Mercado Norte-Americano
Segundo análises do banco Goldman Sachs, cerca de 19% da receita líquida da Suzano depende diretamente do mercado dos Estados Unidos, uma fatia expressiva e complexa de ser redirecionada rapidamente sem incorrer em custos elevados ou reestruturações operacionais. Essa dependência é agravada pelo fato de que muitos contratos firmados com grandes compradores americanos possuem cláusulas de longo prazo e especificações técnicas rigorosas.
O relatório do Goldman Sachs destaca que, mesmo com a possibilidade de utilização temporária de estoques locais, o restabelecimento do equilíbrio comercial demandaria tempo e poderia pressionar os preços para baixo. Além disso, a manutenção dessa tarifa pode estimular os compradores norte-americanos a buscarem fornecedores alternativos em países como Chile e Uruguai, além de incentivar a substituição por produção doméstica.
Dimensão do Mercado e Dificuldades na Substituição
Para dimensionar o impacto, o brasil exportou aproximadamente 2,8 milhões de toneladas de celulose de fibra curta para os Estados Unidos no último ano, representando 78% do consumo americano desse tipo de celulose, 14% das exportações brasileiras totais e 7% do mercado global. A substituição desse volume por outros países é considerada improvável no curto prazo, já que a produção combinada de fibra curta no Uruguai e Chile é de cerca de 9,5 milhões de toneladas anuais, insuficiente para suprir rapidamente a demanda sem causar desequilíbrios.
Riscos Adicionais para o Setor
A corretora XP Investimentos também alerta para os riscos decorrentes dessa política tarifária. Apesar do volume exportado para os EUA representar cerca de 15% do total brasileiro, não se espera uma redução abrupta nos embarques a curto prazo devido à limitada capacidade de produção local de celulose de fibra curta (hardwood) nos Estados Unidos, que depende fortemente das importações para manter sua indústria de papel.
A XP sugere que parte dessas exportações poderia ser redirecionada para mercados asiáticos e europeus, embora isso possa gerar pressões adicionais sobre preços e logística. Outro fator relevante é o impacto indireto sobre o câmbio e a percepção de risco, que podem atenuar os efeitos das tarifas ao enfraquecer o real frente ao dólar.
Perspectiva para Outras Empresas do Setor
O bradesco BBI avalia que a Klabin (KLBN11) será pouco afetada, já que suas exportações para os Estados Unidos representam apenas cerca de 2% do faturamento, um percentual considerado financeiramente irrelevante. Em contrapartida, a Suzano permanece sob alerta, pois a América do Norte responde por aproximadamente 17% da receita total da empresa, sendo 19% provenientes da celulose e 9% do papel, com margens mais elevadas na região que impactam diretamente o lucro operacional (Ebitda).
Analistas indicam que a Suzano detém cerca de 55% do mercado norte-americano de celulose de fibra curta, com aproximadamente 2 milhões de toneladas das 3,7 milhões consumidas na região.A imposição da tarifa deve prejudicar as exportações brasileiras, abrindo espaço para concorrentes, especialmente do Chile.Espera-se que a Suzano busque diversificar seus mercados, o que pode pressionar margens e complicar a logística no curto prazo.